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Coleção Desenbahia abril 27, 2010

Posted by Jan Balanco in Artes Visuais.
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Encerra no próximo domingo 2/5 a visitação à exposição “Revisitando o Acervo de Arte Baiana – Coleção Desenbahia”, em cartaz no Museu de Arte da Bahia – MAB, no bairro da Vitória, em Salvador. A exposição traz ao público cerca de 70 obras de 30 artistas baianos pertencentes à coleção particular da Agência de Fomento do Estado da Bahia – Desenbahia (ex-Desenbanco), que ficam em sua maioria guardadas ou expostas na sede da Desenbahia, e algumas em outros órgãos do Governo Estadual.

A brilhante coleção começou a ser formada em 1974 e  tem como recorte predominante o movimento modernista na Bahia, abrangendo formatos diversos como pintura, gravura, tapeçaria e escultura. Gosto tanto do tema que fui visitar duas vezes, mesmo já conhecendo algumas das obras de visitas à sede da Desenbahia. Mas é importante ressaltar que no museu, expostas de maneira mais adequada, estas parecem se transformar, como por exemplo a escultura Construção Espacial, de Mário Cravo, cujo local de exposição original é o saguão de entrada do edifício da Agência, onde sua beleza é sufocada. Outros destaques são a grandeza da Guerra aos Tupinambás de Carybé, as cores de Jenner Augusto, a ilusão de Jamison Pedra, a leveza de Lygia Milton, e a preciosidade de Newton Silva. Fotos de algumas obras da coleção podem ser encontradas aqui, e informações completas sobre a exposição aqui. Altamente recomendável, não percam!

Passáro de Fogo

A obra que considero o ápice da coleção Desenbahia,  infelizmente – por razões óbvias de logística – não integrou a exposição em cartaz no MAB. A escultura de grandes dimensões Pássaro de Fogo, de Emanoel Araújo, guarda a entrada do Edíficio Desenbahia, localizado no número 776 da Avenida Tancredo Neves, em Salvador, local onde funcionam também a Secretaria de Turismo e a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Por trabalhar na SECULT, tenho o privilégio de poder contemplar essa obra diariamente. E como a arte depois de exposta não tem dono, há três anos passo pela escultura desenvolvendo minhas próprias interpretações sobre a mesma.

A obra é composta por duas grandes peças de metal equilibradas uma sobre a outra por uma frágil ligação, que faz a peça superior planar com leveza (atingindo a altura de 8m em sua extremidade), ao mesmo tempo em que parece ameaçar cair a qualquer momento. Há pouquíssimo tempo descobri que a escultura tem como título Pássaro de Fogo (o que faz todo sentido), e foi esse desconhecimento que por anos me proporcionou o desenvolvimento de uma interpretação livre da obra e, creio, completamente desconexa das intenções iniciais do seu autor. Esse tênue equilíbrio entre as duas peças que compõem a escultura me faz refletir a cada nova manhã sobre a fragilidade e a inconstância das posições de poder, e consequentemente me alerta para nossas ações enquanto ocupando postos tão temporários: Seja humilde, exerça sua função com sabedoria, são alguns dos pensamentos que a obra me traz a cada nova manhã de trabalho desde 2007. Pelo privilégio de ter essas lições íntimas diárias, eu agradeço todo dia ao autor (mesmo que não intencionado) e àqueles que um dia tiveram a sensibilidade manter a sua obra em espaço público, ao alcance de todos.

O Pássaro de Fogo recebeu nova camada de tinta recentemente e seu vermelho está mais vivo ainda (a foto que ilustra esse texto foi feita por mim em 2008). Ótima oportunidade para uma visita a essa que talvez é uma das mais belas obras de arte pública de Salvador. O acesso ao edifício é livre para pedestres das 8h30 às 18h nos dias úteis.