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SP-Arte para principiantes maio 10, 2012

Posted by Jan Balanco in Artes Visuais.
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Visão aérea da SP-Arte 2011

Começou ontem e vai até o próximo domingo, 12 de maio, a edição 2012 da mais importante feira de arte brasileira, a SP-Arte. A feira acontece no prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera em São Paulo, e tem como expositores as mais importantes galerias do país. Em verdade, tomando por base a edição do ano passado, quase todas as galerias presentes são da cidade de São Paulo, algumas do Rio de Janeiro, uma de Salvador, uma do Recife, e não me recordo se outros estados se fizeram presentes com estandes.

Como qualquer feira comum, o foco da SP-Arte é criar um espaço temporário especial para que empresários de determinado ramo possam apresentar seus produtos ao seu mercado específico. Neste caso, os empresários são os galeristas, os produtos são as obras de arte expostas, e o mercado é o chamado mercado de arte.

Detalhe dos estande da SP-Arte 2011

Um dos mais aguardados momentos do calendário das artes visuais no Brasil, talvez apenas superado pela Bienal de Arte de São Paulo, a SP-Arte é uma visita indispensável a qualquer interessado por arte contemporânea, seja ou não colecionador. Se a sua importância é quase sempre medida pelo ponto de vista da economia da cultura à partir do volume de negócios que movimenta, sendo o principal termômetro do mercado, chamo atenção para outro aspecto, mais interessante.

A SP-Arte é a principal oportunidade para conferir o que de melhor está acontecendo na arte contemporânea brasileira. Afinal são os melhores galeristas apresentando as melhores obras de seus melhores artistas. Nessa intenção de apresentar a atual arte nacional, o panorama trazido pela feira em minha opinião supera o da Bienal (pois nesta a arte brasileira e estrangeira divide espaços) e o do Panorama da Arte Brasileira (pois é menor em dimensão e limitado por recortes curatoriais temáticos). Não quero com isso afirmar que a SP-Arte é um retrato fiel do campo das artes visuais no Brasil. Ela é um retrato da arte bem posicionada no mercado. Mas arrisco dizer que parte significativa dos melhores artistas dessa linguagem está aqui representada.

Galeria Choque Cultural na SP-Arte 2011

Visitar a SP-Arte é como visitar uma exposição de arte contemporânea do mais alto nível, digna de figurar nas salas de qualquer uma das mais prestigiadas instituições culturais do país. Das pinturas de Adriana Varejão, à fotografia de Claudio Edinger, ao graffiti de Titi Freak ou à escultura de Frans Krajcberg, provavelmente tudo estará lá. Além de dificilmente encontrar obras desses artistas expostas em museus e galerias públicas, que não possuem dinâmica burocrática e financeira para acompanhar o cenário artístico na velocidade necessária, apreciar essas obras em suas galerias de origem também é muito difícil. Conheço mais de duas dezenas de galerias da cidade de São Paulo, e posso afirmar com certeza que visitá-las não costuma ser dos melhores passeios, podendo até mesmo se constituir algumas vezes em situações desagradáveis. Em sua absoluta maioria as galerias de arte não se compreendem enquanto equipamento cultural, cujo acesso a todo tipo de público deveria ser incentivado para formação de seu público. São administradas como lojas de luxo que não gostam de abrir suas portas a visitantes de ocasião. As exceções existem, como a minha preferida Choque Cultural, a querida Paulo Darzé e a jovem Zipper, mas sem dúvida são casos raros. Com estandes abertos na feira, por mais que certos galeristas torçam os narizes para você, não há nada que possam fazer além de cara feia – e quem tem medo de careta?

Recomendo muitíssimo a visita à SP-Arte. É um evento de qualidade tal que vale uma viagem interestadual para comparecer. A feira cobra ingressos de R$ 30 por pessoa, que considero caríssimos para um projeto patrocinado com dinheiro público via Lei Rouanet. Como comparação, o museu mais caro de São Paulo, o MASP – que cobra mais que o dobro dos outros museus da cidade – tem ingressos a R$ 15, e o Louvre, em Paris a aproximadamente R$ 26 (€10). Porém neste ano uma dica fundamental para economizar é que ao adquirir ingressos do MIS-SP ou MAM-SP você ganha um convite para a feira. O ingresso do MIS custa R$ 5, e o do MAM está gratuito atualmente. Ou seja, antes de ir à feira bastar fazer uma visita ao MAM (que fica no prédio vizinho) e solicitar um convite na recepção.

Rain Machine em São Paulo abril 25, 2012

Posted by Jan Balanco in Música.
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Poster por Ana Helena Tokutake & Kyp Malone

Acontece nesta quinta 25/4 no Neu Club e domingo 29/4 na Casa do Mancha os recomendadíssimos shows do Rain Machine em São Paulo. Quem?

A primeira vez que ouvi falar do Rain Machine, se minha memória não estiver falhando como de costume, foi num e-mail que recebi da Insound em 2009 anunciando o lançamento do primeiro – e único até agora – disco, homônimo. A loja me recomendava a compra do disco porque eu havia comprado no passado discos do TV on the Radio, e o Rain Machine é um projeto paralelo de Kyp Malone, guitarrista dessa maravilhosa banda do Brooklyn. Fazendo um resumo bem superficial e prático, podemos dizer que o som do Rain Machine é como uma versão lo-fi e mais experimental do TOTR. Então, se você gosta de TV on the Radio, a chance de se interessar pelo Rain Machine é muito grande.

Se você, assim como eu, não conseguiu assistir os shows que o TV on the Radio fez em São Paulo por não ser popular o suficiente para ter ganho convites para a festa fechada no Cine Jóia, ou não comprou ingressos para o Lollapalooza Brasil devido aos preços abusivos praticados pelos organizadores, não precisa mais se contentar em pensar que o som do Jóia estava ruim, e que no Lollapalooza a apresentação ficou deslocada no palco enorme. Agora dá pra compensar com dois shows do Rain Machine a preços módicos nos lugares mais legais da cidade

Beach House – Myth março 7, 2012

Posted by Jan Balanco in Música.
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O Beach House, um dos melhores grupos musicais da atualidade, disponibilizou hoje para audição em seu site oficial uma música inédita, “Myth”, que deverá fazer parte do seu novo álbum, “Bloom”, sucessor da obra-prima “Teen Dream”, melhor disco de 2010. Ouça a pérola aqui enquanto aguarda ansiosamente o novo disco deles. Para fazer o download da faixa, basta se cadastrar na lista de e-mails da banda (no link Join Beach House Mailing List) e e receber o link para download em seu e-mail.

Melhores Discos de 2011 janeiro 25, 2012

Posted by Jan Balanco in Música.
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Certa vez um amigo escreveu em seu blog que as pessoas parassem de publicar listas de melhores do ano pois ninguém queria saber delas. Concordo plenamente. Com tantas listas feitas pelas mais diversas publicações mundo afora de novembro a fevereiro, ainda temos que ler a opinião dos amigos, colegas e vizinhos? Discordo plenamente. Graças a esse frenesi provocado pelas listas, não há momento no ano em que eu ouça mais música, pesquise e discuta sobre. E por isso eu não vou deixar de publicar a minha.

Em geral as listas de melhores sempre geram muita discussão, do tipo “Como não colocaram o disco X nessa lista?”. Isso acontece porque ninguém explicita os critérios utilizados na seleção. Por exemplo, sempre uma publicação inglesa privilegiará bandas inglesas, sempre uma publicação americana privilegiará bandas americanas, e não acho que propositadamente, mas porque é natural que ouçam mais música feita eu seu próprio país, e se identifiquem mais com esta. A lógica vale para as listas de jornalistas independentes e blogs mundo afora, em que num olhar mais atento é possível decifrar que a audição daquela pessoa durante o ano foi guiada por determinados selos, uma loja específica onde ela compra discos regularmente, ou um círculo de amizades característico. Todos estão sujeitos a esse tipo de influência, só que não o assumem publicamente ou não se dão conta do fato.

No meu caso, alguém mais entendido que observar a lista abaixo pode decifrar que sou um seguidor dos selos Sub Pop, Matador e Merge, e também que sou cliente da Insound – não tenho nenhum problema em “revelar” minhas fontes ou meus gostos. E por aí já é possível entender outra característica da minha lista, que é ser predominantemente indie, e praticamente não fazer concessões a grandes artistas, simplesmente porque na minha opinião a música que realmente interessa não costuma vir dessas figuras. Outro amigo comentava no fim do ano que qualquer lista que colocasse o “Angles” do Strokes entre os melhores era uma lista preguiçosa. Entendo o ponto de vista dele, e acredito que uma lista em que predominam medalhões não deve ser levada a sério pois não houve pesquisa em seu desenvolvimento. Por outro lado, obras muito boas não podem ser descartadas só por serem produção de grandes nomes. Em particular achei o “Angles” um ótimo disco, mas que muita gente resolveu criticar, afinal, a grande moda no mundo da música em 2011 foi falar mal do Strokes. Todo mundo resolveu cuspir no prato que comeu, e quem mais cuspisse ganhava mais pontos no ranking dos sabichões, mas na hora de assistir o show deles no Planeta Terra, estavam todos se estapeando por um ingresso… mas isso já é outro assunto. O mesmo vale para outros gêneros musicais, acho muito difícil classificar diferentes gêneros entre si, então prefiro fazer uma coisa só, dedicada, do que uma mistura de gêneros que não faça sentido. Mas as exceções sempre podem existir.

Outra característica de minha lista é que só classifico álbuns. EPs, coletâneas e discos ao vivos só entram na lista se forem absurdamente excepcionais. E só listo discos muito bons. Ou seja, discos que sejam perenes, que possam ser ouvidos daqui a 10 anos e continuem sendo grandes obras. Discos apenas “legais” ou “divertidos” não tem vez na minha lista principal. Prefiro fazer uma lista com poucos discos – ou não fazer lista nenhuma – do que fazer uma lista com critérios fracos. Isso também vale para os discos brasileiros, evito colocar algum nacional só para constar. Se houver internacionais melhores, os brasileiros ficam todos de fora, paciência. O meu interesse é pelo que vai ficar, não pelo que vai passar.

Eis os melhores disco do ano de 2011:

1. Fleet Foxes – Helplessness Blues

2011 foi um ano de muitos discos excelentes, infinitamente superior a 2010 no quesito música. Definir os 10 melhores discos do ano, principalmente os 5 primeiros, foi uma tarefa dificílima. Ouvi os melhores discos diversas vezes, fiz e refiz a lista, mas o primeiro lugar da lista, por mais que eu repensasse, sempre concluía que pertencia ao “Helplessness Blues”. Não há muito o que falar, é exatamente o esperávamos do Fleet Foxes, um segundo disco melhor, mais profundo e mais maduro que o debute “Fleet Foxes” de . Superior ao já excelente debute de 2008, “Helplessness Blues” foi um disco relativamente subestimado e que infelizmente não recebeu toda a atenção merecida. O escutei por inteiro mais de uma dezena de vezes e continua me surpreendendo a cada audição. Um disco para toda vida.

2. Girls – Father, Son, Holy Ghost!

O primeiro disco do Girls, “Album”, não me agradou muito. Ouvi diversas vezes mas não funcionou comigo. Por isso nem ia escutar o “Father, Son, Holy Ghost!”, mas com tantos elogios por aí resolvi dar uma chance e foi uma das grandes surpresas de 2011. Um disco simplesmente excelente e indispensável, uma verdadeira obra-prima que transita de maneira impecável por vários subgêneros do rock. Mal acredito que ele está apenas em segundo lugar nessa lista. Simplesmente brilhante e indispensável.

3. Fucked Up – David Comes to Life

O grande problema do hardcore enquanto gênero musical é a repetição. Décadas se passaram e tudo continua do mesmo jeito, como se nada houvesse acontecido. A linha evolutiva do hardcore é uma reta, horizontal, composta por centenas de bandas iguais. Não que os gêneros precisem se reinventar, longe disso, mas neste caso, devido à histórica opção de priorizar a utilização da música enquanto meio de comunicação política e não enquanto meio de expressão artística, a música fica estagnada. O Fucked Up anda na contramão disso tudo, e alarga as fronteiras do hardcore experimentando principalmente com indie rock, e também com punk rock, post-hardcore, post-punk, e psicodelia. Se existe algo provocador na arte, é provocar um gênero por si só já estabelecido como provocador. Em “David Come to Life” a banda ousa a ponto de compor uma opera-rock hardcore, narrando a história do personagem David Eliade desde o seu nascimento. Mas, apesar de ser uma história cronologicamente linear, as 18 músicas que compõem os 78 minutos desse álbum duplo versam quase que em sua totalidade sobre o relacionamento amoroso entre David e Veronica, do momento em que se conhecem na fábrica de lâmpadas em que trabalhavam (daí a capa do disco ser duas lâmpadas juntas em forma de coração), até a separação e posterior não-superação do término, o que David remoe até o fim da vida, até as cortinas se fecharem e as luzes se acenderem. Seria então o amor a parte mais importante da vida?

4. M83 – Hurry Up, We’re Dreaming

É raro encontrar grandes álbuns de música eletrônica. Isso porque é um gênero em que seus criadores em sua maioria são DJs e sua obra é focada na produção de dance tracks e remixes, e não na produção de álbuns. Claro que faço aqui uma generalização de uma cena muito maior, a qual não domino, e avalio como um ouvinte de música pop. Mas todo ano surge pelo menos um grande álbum em que predomina a música eletrônica, tendo como exemplo em anos recentes discos de Hot Chip, Justice, e acima de tudo, LCD Soundsystem. 2011 não foi exceção, e o disco eletrônico do ano foi a obra-prima “Hurry Up, We’re Dreaming” do desconhecido francês M83. O álbum duplo é construído como uma colagem de diversas músicas que, se podem aparentemente não demonstrar relação direta entre si, em conjunto são indispensáveis umas às outras e à unidade do álbum enquanto obra. Li em algum lugar que o disco foi inspirado pelo “Mellon Collie and the Infinite Sadness”, álbum duplo de 1995 do Smashing Pumpkins. Não sei se é verdade, mas faz todo o sentido, e ouvi-lo dessa forma o faz parecer uma bela homenagem. Construído como um grande disco pop, abarca influências das três décadas anteriores da música, de Talking Heads a Animal Collective, de maneira magistral.

5. Foo Fighters – Wasting Light

Tenho um grande preconceito com o Foo Fighters por achar que se tornou uma banda pop demais, trazendo para sua música aquela incômoda sonoridade radiofônica que, se em muito agrada o ouvinte comum, a mim provoca náuseas. Mas muita gente elogiou e eu resolvi ouvir. Odiei o disco na primeira audição, achei uma porcaria, e o abandonei. Até que no fim de 2011, enquanto estudava para elaborar essa lista, achei que não seria justo descartar o disco sem mais uma audição, e fui fisgado. Foi o disco certo na hora certa. “Wasting Light” é uma compilação de grandes músicas e não deve passar batido em suas audições, especialmente a seqüência que encerra o álbum com as faixas “I Should Have Know” e “Walk”. O Foo Fighters subiu em meu conceito. Em tempo, uma das coisas mais bacanas que aconteceram na música em 2011 foi o Foo Fighters ter escalado o Fucked Up como banda de abertura em seus shows em estádios na Austrália. Fantástico!

6. PJ Harvey – Let England Shake

PJ Harvey é uma daquelas artistas que eu sei que tem uma importante obra mas que por algum motivo eu nunca dei atenção. É um caso que demonstra a importância das listas de melhores do ano. Se este disco não estivesse figurando em várias listas, provavelmente eu não teria sabido que PJ Harvey havia lançado um novo álbum, não teria me interessado, e mais um ano se passaria sem que eu lhe desse a atenção que merece. “Let England Shake” é um álbum conceitual que tem como tema a Inglaterra, sua terra natal. São 12 hinos que versam sobre a guerra, e os sentimentos por ela provocados. Saudade, tristeza, solidão, arrependimento e pequenas alegrias vivenciadas nos são contadas por soldados ingleses sonhando com a volta para casa, ou um narrador em terceira pessoa. Gostaria de ter mais o que falar sobre esse disco, mas como humildemente assumi algumas linhas atrás, sou um iniciante na obra de PJ Harvey. Fica o convite a essa descoberta.

7. Arctic Monkeys – Suck It and See

Quem diria que aquela bandinha inglesa predestinada a “salvar o rock” em 2005 iria durar mais de um verão, e se tornar uma fábrica de ótimos discos? Desde o seu primeiro álbum, “Whatever People Say I Am, That´s What I´m Not (2006), o Arctic Monkeys segue uma evolução gradual e natural, gravando discos cada vez melhores, amadurecendo, e se distanciando da obrigação de ficar bem na pista de dança. Alex Turner se revelou um grande compositor, fato duplamente provado em 2011 com o lançamento do EP solo “Submarine”, que indico logo abaixo. Perca o preconceito que te faz encaixar o Arctic Monkeys na lista de bandas adolescentes e ouça uma das bandas mais interessantes dos anos 2000 adentrar a década de 2010 com mais um álbum para ficar na história.

8. My Morning Jacket – Circuital

Não dá pra negar que o disco anterior do My Morning Jacket, “Evil Urges”, de 2008, foi um disco muito estranho. Seguiu a linha de inovação iniciada em “Z” (2005) e a levou por caminhos além do devido, passando do ponto, criando um álbum ótimo mas que quando analisado dentro da brilhante discografia da banda, não parece mais tão bom assim. Em seu novo disco, “Circuital”, a banda olha para trás, para época em que eram claramente discípulos de Neil Young, ao mesmo tempo em que seguem o caminho aberto por “Z”, experimentando e propondo novas sonoridades à sua música, às vezes até de modo mais ousado que em “Evil Urges”, mas dessa dessa vez acertando na medida. É um disco em todos os aspectos mais maduro, e que nos faz crer que o My Morning Jacket pode enfim ter encontrado unidade em seu som. Pelo menos até o seu próximo disco.

9. Lê Almeida – Mono Maçã

Estava no trabalho quando falei que minha lista de melhores do ano não teria nenhum disco brasileiro. Meus colegas me criticaram, e resolvi pesquisar mais. Lembrei desse disco que um amigo havia me passado por e-mail, eu baixei mas não ouvi. O fiz em dezembro, e me surpreendi muito. Lê Almeida, assim como eu, é um grande fã do Guided by Voices. Mas do que eu havia escutado dele anteriormente, me parecia sofrer de um problema que afeta algumas bandas brasileiras que exageram no uso do rótulo lo-fi. Explico melhor: Quando Guided by Voices, Pavement, e outras bandas dos anos 1990 gravaram seus maravilhosos discos com equipamento precário em porões, não o fizeram por opção estética, mas por falta de recursos. O “movimento” lo-fi não existiu, nem nunca quis ser um sub-genêro indie, foi algo que simplesmente aconteceu. Mas alguns artistas hoje insistem em emular aquela sonoridade, muitas vezes de maneira forçada, pois tenha certeza que se aquelas bandas surgissem hoje elas estariam gravando em computadores domésticos, e não em fitas cassete. E, geralmente, quando as citadas bandas brasileiras optam por tal radicalismo estético o colocam como fim, deixando para segundo plano a qualidade da obra. Se em algum momento Lê Almeida fez parte desse grupo, ele o superou em “Mono Maçã”, e marcou seu lugar na história da música brasileira com um disco excelente, um dos melhores que ouvi em 2011. Um álbum maravilhoso, que pouca gente vai escutar ou entender. Eu virei fã, não vejo a hora de ter uma grana sobrando para comprar o LP original e ficar ouvindo até o fim dos meus dias.

10. Yuck – Yuck

Pode se dizer que o Yuck é um equivalente gringo a Lê Almeida quando o assunto é se apropriar de sonoridade da década de 1990 e redescobri-las em novas composições na década de 2010. A diferença é que enquanto o brasileiro atualiza o lo-fi, os americanos revivem o indie rock e o shoegaze. A precisão do Yuck em emular o som de suas referências é tamanha que inicialmente pode parecer um pastiche. As músicas vão rolando e a cada novo trecho é acompanhado de uma sensação de deja vu: Built to Spill? Sonic Youth? Teenage Fanclub? Quando ouvi pela primeira vez, por indicação de uma amiga, adorei, como ela preveu que fosse acontecer, afinal tudo que eu mais gosto de escutar estava presente no disco. Mas logo comecei a achar que apesar de muito bom, era uma banda sem personalidade que não iria pra frente. Mas esse desprezo durou pouco tempo, voltei a escutar o disco e confirmei que o Yuck é uma banda excelente, e esse foi o disco de 2011 que mais ouvi em 2011. Uma grande estréia, que nos deixa ansiosíssimos esperando o que nos reserva o Yuck nos próximos anos.

Outros 15 grandes álbuns

2011 foi bom demais, então seguem mais 15 discos que marcaram esse ano e ninguém deveria deixar de ouvir:

  • Alex Turner – Submarine (EP)
  • Beastie Boys – Hot Sauce Committee Part 2
  • Bixiga70 – Bixiga70
  • Black Lips – Arabia Mountain
  • Bon Iver – Bon Iver
  • Bright Eyes – The People’s Key
  • Fabio Góes – O Destino Vestido de Noiva
  • Kurt Ville – Smoke Ring For My Halo
  • Low – C’mon
  • Mallu Magalhães – Pitanga
  • Real Estate – Days
  • Lifeguards – Waving at the Astronauts
  • The Rural Alberta Advantage – Departing
  • The Strokes – Angles
  • TV on the Radio – Nine Types of Light

5 discos muito bons, apenas

Aqui listo alguns discos de que gosto muito, mas que não reúnem qualidades suficientes para figurar numa lista de melhores. São, principalmente, garantia de bons momentos de diversão, pode carregar no seu MP3 player sem medo de ser feliz:

  • Beach Fossils – What a Pleasure (EP)
  • The Pains of Being Pure at Heart – Belong
  • Stephen Malkmus and the Jicks – Mirror Traffic
  • Telekinesis – 12 Desperate Lines
  • Times New Viking – Dancer Equired

O que eu não escutei ainda, ou ainda não escutei direito

Se tem algo que ninguém faz ao compilar uma lista de melhores do ano, além de explicitar os critérios usados na seleção, é assumir que não escutou todos os discos que gostaria de ter ouvido. Estou há muitos dias tentando publicar esta minha lista, mas sempre atrasava o fechamento para poder ouvir só mais um. Chegou num ponto que desisti, e para compensar, antes que alguém grite que faltou algo, tem esses aí embaixo que acredito que vou gostar muito quando conseguir escutar melhor, e que poderiam, talvez, estar nas listas lá de cima:

  • Cícero – Canções de Apartamento
  • The Decemberists – The King is Dead
  • Gal Costa – Recanto
  • Panda Bear – Tomboy
  • tUnE-yArDs – who kill
  • Vanguart – Boa Parte de Mim vai Embora

Todos os demais, se não estão por aqui é porque não achei tão bons assim, ou simplesmente não me interessaram. Que a música em 2012 siga a boa trilha de 2011!

Livros e filmes para 2012 dezembro 30, 2011

Posted by Jan Balanco in Audiovisual, Livros e HQs.
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Alguns dos variados livros que estou separando para tentar ler em 2012

Com o novo ano chegando é hora de fazer um balanço dos livros e filmes assistidos em 2011, e programar como será 2012. Por isso recomendo a leitura do post que escrevi há um tempo atrás sobre metas anuais de livros e filmes. Eu consegui alcançar minhas metas, li 14 livros conforme planejado e assisti 101 filmes, superando em muito o planejado que era assistir pelo menos 60 filmes. Entre os livros, romance, poesia, contos, livros técnicos, ou seja, um rol bem diverso, o que me deixou satisfeito mas pretendo melhorar no próximo ano, especialmente na quantidade de leitura, que pretendo aumentar. Quanto aos filmes, a grande mudança em relação a 2010 é que em 2011 assisti 25 filmes no cinema, 1/4 do total do ano, um fato só conseguido pela facilidade de ter quase 30 salas de cinema no meu bairro. Em 2011 ficarei satisfeito se alcançar a meta de 60 filmes apenas, mas espero manter o mesmo ritmo de idas ao cinema.

Que o seu consumo cultural em 2012 também seja frenético! Feliz ano novo!

Fest Comix 2011 outubro 15, 2011

Posted by Jan Balanco in Livros e HQs.
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Começou ontem e vai até este domingo em São Paulo a 18ª edição do Fest Comix, festival de HQs promovido pela Comix, mais tradicional loja brasileira do ramo. Auto-intitulado como o “maior evento de Quadrinhos e Mangás do Brasil”, se caracteriza mais como uma feira do que um festival. Diferentemente de outros eventos brasileiros como o FIQ e a Rio Comicon, que tem programação intensa de lançamentos, palestras, debates e oficinas, além de exposições e até mostras de filmes, em uma celebração real da cultura das HQs, o Fest Comix é na verdade uma feira de venda de publicações, associada a uma pequena – porém interessante – programação paralela.

O “supermercado dos quadrinhos” no Fest Comix de 2010.

Para quem deseja fazer comprar, o Fest Comix é muito bom. A variedade de títulos é realmente grande, e parcerias com editoras nacionais proporcionam descontos de 20% a 80% nos títulos à venda. A oferta de revistas usadas também é ótima, sendo uma boa oportunidade para completar coleções.

O 18º Fest Comix acontece de 14 a 16/10 no Centro de Convenções São Luís, localizado a Rua Luis Coelho, 320, muito próximo à estação Consolação/Paulista do metrô. Para conferir a programação completa do evento, e os preços dos itens em promoção, confira o site oficial.

Space Invaders em São Paulo agosto 3, 2011

Posted by Jan Balanco in Artes Visuais.
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Foi com surpresa que encontrei uma obra do artista francês Invader no meu bairro semana passada. Será que era ele mesmo, ou um clone? Pesquisei e descobri que ele é um dos artistas estrangeiros participantes da exposição de arte urbana contemporânea De Dentro e De Fora, uma produção dos curadores de nossa galeria preferida, a Choque Cultural, no MASP, e há cerca de 1 mês está em São Paulo dando continuidade à sua “invasão mundial”. Com dicas de conhecidos pude registrar mais algumas invasões na região (passe o cursor sobre a foto para ver localização da obra):

UPDATE: Novas fotos (05/8)

UPDATE: Novas fotos (08/8)

Foto do Elevado Costa e Silva enviada por Juliana Garcia, do blog minhocão S.A.

A exposição De Dentro e De Fora abre ao público no próximo dia 17, e fica em cartaz até 23/12. Já pude visitar a montagem duas vezes, e posso garantir: Imperdível!

Woody Allen “Meia-Noite em Paris” julho 6, 2011

Posted by Jan Balanco in Audiovisual.
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Uma grata surpresa que 2011 nos trouxe foi o ótimo Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011) de Woody Allen. Assisti o filme em sua semana de estréia, mais precisamente em uma última sessão de segunda-feira, às 21h50, numa sala de cinema quase cheia. Se a boa quantidade de público já parecia algo incomum, ao final, parte do público aplaudiu o filme, e quase sua totalidade só deixou a sala após a o fim da exibição dos créditos. Cena que só costumamos ver em festivais.

Meia-Noite em Paris é uma comédia que, obviamente, se passa em Paris, seguindo linha recente do diretor de ambientar seus filmes em capitais européias (Londres e Barcelona antecederam). O trailer e sinopse oficiais não fornecem praticamente nenhuma informação sobre a trama, uma comédia (alguns diriam comédia romântica), cuja graça está justamente na série de inesperadas situações que acontecem com o seu protagonista. Por isso, caso ainda não tenho visto o filme, fuja de resenhas e críticas que forneçam informações demais sobre o mesmo pois o fator surpresa aqui é essencial.

É difícil recomendar um filme quando não se pode minimamente conta-lo, mas digo que se você gosta de Woody Allen, você vai gostar desse filme. E mais importante ainda, se você se interessa pela arte da primeira metade do século XX, seus autores, pintores e cineastas, garanto que você vai gostar muito desse filme. Comparando aos seus filmes mais recentes, combina a visão romantizada da Europa pelos americanos presente em Vicky Christina Barcelona (2008), o charme frio de O Sonho de Cassandra (Cassandra’s Dream, 2007) e Você Vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger, 2010), com o humor ranzinza de Tudo Pode dar Certo (Whatever Works, 2009) – esse último aliás devia entrar na lista de filmes mais hilariantes de toda a história do cinema.

É confortante saber que temos diretores em atuação cujos filmes novos é sempre garantia de bom cinema. Clint Eastwood, Sofia Coppola, Quentin Tarantino, Martin Scorsese, Gus Van Sant, Joel Coen e Woody Allen são alguns desses poucos. Nessa pequena lista, Woody Allen é o mais ativo apesar de ser um dos mais velhos, e mesmo com uma prolífica produção cinematográfica, não há como assistir um filme de Woody Allen e se arrepender depois.

Sucesso de bilheteria

Meia-Noite em Paris foi a maior estréia de Woody Allen no Brasil, com 98 cópias, e tambem a melhor, com R$ 126 mil em ingressos no fim de semana de estréia. O sucesso se manteve nas semanas seguintes, e ao invés de diminuir o número de cópias em cartaz como é costume, o mesmo foi ampliado.

Nos Estados Unidos, o filme estreou em 6 salas em 25/5 e com um mês de exibição já estava em exibição em 954 salas. É a quinta maior bilheteria total de Woody Allen nos EUA desde Hanna e suas Irmãs, de 1986 (US$ 40 mi). A expectativa agora é ver até onde vai o desempenho do filme, sendo que a frente dele temos Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977, US$ 39,2 mi) e Manhattan (1979, US$ 39,9 mi). Infelizmente nunca teremos certeza absoluta de seu lugar histórico mundialmente, uma vez que os seus filmes mais antigos só tem registros de bilheteria nos EUA. Mas considerando que nos anos 2000 a participação de países “estrangeiros” na bilheteria mundial de seus filmes tem média superior a 70%, o fillme tem potencial para superar o seu maior sucesso recente, Vicky Christina Barcelona, que acumulou US$ 96,4 mi mundialmente*

O filme foi ainda a melhor estréia da distribuidora Sony Picture Classics nos EUA, superando Abraços Partidos, e promete superar também a sua segunda maior bilheteria total, o filme Capote. Porém não deve bater O Tigre e o Dragão, maior sucesso da distribuidora.

* Dados do Box Office Mojo

Gang of Four grátis hoje em São Paulo maio 29, 2011

Posted by Jan Balanco in Música.
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Aos desavisados de plantão, uma notícia de última hora: Hoje, às 18h30 no Parque Independência, tem show do Gang of Four com entrada gratuita. O show acontece dentro do evento Música no Parque, que é parte da programação do 15º Festival Cultura Inglesa. Entre as atrações britânicas, apresentam-se ainda Miles Kane e Blood Red Shoes. E entre as brasileiras, Mockers tocando Beatles, Cachorro Grande tocando The Who, e algumas bandas de alunos da escola de inglês.

Se você acha que o Gang of Four atualmente deve ser uma trupe de velinhos que vai conseguir dar conta do recado, sugiro que ouça o álbum Return the Gift, em que eles regravaram suas músicas antigas nos dias atuais. Ou apenas assista esse vídeo aqui, de uma apresentação deles neste ano na Austrália (com backing vocals da banda chinesa Re-TROS):

Como se o Gang of Four não fosse motivo suficiente, o festival ainda tem lugar em uma das mais belas áreas verdes de São Paulo, com singulares jardins franceses, o Parque Independência, popularmente conhecido como Parque do Ipiranga. Se você não conhece, o local é mais ou menos assim:

Puro amor no seu coração maio 13, 2011

Posted by Jan Balanco in Música.
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Não, eu não levei a câmera. Não, meu celular não faz boas fotos, desculpem.

Eu nem planejava escrever sobre o show do Teenage Fanclub em São Paulo, mas como eu não consigo parar de pensar em outra coisa desde que voltei pra casa na madrugada de quarta para quinta-feira, decidi que precisava deixar ao menos um pequeno registro.

Foi simplesmente a melhor noite de 2011 até agora, porque:
– Show excelente, com repertório ótimo
– Ingresso “barato”
– Local perfeito, com estrtura incrível e acesso fácil
– Som quase perfeito, nota 9
– Whisky 12 anos, água e chocolate grátis

Ah, se todo show de rock fosse assim!

O show aconteceu dentro da programação do Whisky Festival, um evento realizado por uma importadora de bebidas para divulgar seus produtos. O local escolhido foi o The Week, um clube noturno de alto padrão no bairro da Água Branca, em São Paulo, com programação usualmente voltada para música eletrônica comercial. Não sou um conhecedor desse tipo de ambiente, e pra mim foi de longe a melhor casa noturna que já visitei, perfeita para shows de médio porte. Limpa, organizada, ampla, com boa circulação e estrutura bem nova. De acesso muito fácil, cheguei lá de ônibus e gastei apenas 18 minutos saindo da Av.Paulista. Na entrada cada pessoa ganhava uma ficha com direito a 1 dose de whisky que podia ser escolhida em uma carta com 8 tipos diferentes, de 8 a 12 anos. Além disso havia chocolate e água distribuídos à vontade.  Muito conforto. Agora lembre do último festival ou show internacional que tenha ido: A dificuldade em chegar até o local do show, as centenas de metros que precisou percorrer para usar um banheiro químico imundo e com fila, o aperto pelo excesso de pessoas, a grande quantidade de gente desinteressada conversando e atualizando as redes sociais ao seu lado por não saber o que estão fazendo ali, a produção despreparada, as bebidas com preço abusivos, o inferno para conseguir transporte na saída… Sinceramente, eu não gosto disso, me desculpe mas eu prefiro o conforto de uma “boate de playboy” para assistir a bons shows.

Sim, isso é uma foto de alguém fazendo stage diving.

Confesso que não sou um grande fã ou conhecedor do Teenage Fanclub. Se têm uma dezena de álbuns, conheço apenas três, Bandwagonesque (1991), Thirtheen (1993) e Grand Prix (1995), o suficiente para eu gostar muito da banda. O repertório do show aparentemente circulou por toda a carreira da banda, com maior destaque para o último álbum Shadows (2010). Os músicos têm execução perfeita, cantam muito bem, mas o importante mesmo é que as músicas são maravilhosas, o que provoca uma justa adoração do público, e o que fez a noite ser mágica. Para encerrar, vou citar apenas um fato, que diz muito sobre o quão bom foi a noite: Rolou STAGE DIVING. Juro! Há quantos anos que não presencio isso? Uns 10, talvez? E num show que a faixa etária do público girava em torno dos 30 anos! E não foi uma vez, foram várias vezes. Foi como estar de volta aos anos 90, só que agora estamos mais para tiozinhos do que para teenagers… mas continuamos um apaixonado fã-clube adolescente.